Somos maiores do que nossos dons e talentos

Reflexões com base no livro Habitudes – Imagens que Formam os Hábitos e Atitudes de um Líder, de Tim Elmore, que trata da arte da autoliderança.

Na abertura de um dos capítulos do livro, intitulado “O Presente Extragrande”, lemos que o líder é, em geral, uma pessoa de habilidades. Porém, na busca pelo sucesso, pode se apoiar unicamente nos seus dons e negligenciar o caráter. O líder sabota a si mesmo quando o seu dom se torna maior do que a sua pessoa.

Pensei imediatamente no Maradona, precocemente falecido, um ídolo diferenciado do futebol que marcou o mundo esportivo com a sua imensa habilidade.  No campo, usou de forma genial os dons que lhe eram singulares.  Fora dos gramados, contudo, sua vida teve contornos dramáticos, com drogas e álcool, filhos de múltiplas relações amorosas, desavenças com a imprensa e processos judiciais. Nada que não aconteça com muitas outras pessoas, mas, no caso dele, um enorme contraste entre a atuação como jogador e a trajetória como indivíduo.  Como diz o livro mencionado, quando o caráter não acompanha o talento, as pessoas aprendem a levar a vida de improviso.

Um forte contraponto sobressai quando se pensa em Pelé, um gênio insuperável no campo, reverenciado no mundo todo, mas que sempre se mostrou como uma pessoa simples, afável e humilde.  Um indivíduo cujo caráter não foi ofuscado pelos dons.

Tive o privilégio de estar próximo ao Pelé em dois momentos da minha vida.  Um deles, como adolescente, quando consegui o seu autógrafo num livro de Matemática, numa escapada das aulas e uma visita à concentração da Seleção Brasileira no Hotel Vila Inglesa em Campos do Jordão.  Ali tive um breve contato com uma pessoa acessível, simpática e meio tímida.  Corta para 2017 e me vejo num almoço de negócios com o Pelé e mais umas sete pessoas.  Sei que o Pelé jamais vai se lembrar de mim, mas naquele momento eu reencontrei a pessoa acessível, simpática e meio tímida que me deu aquele autógrafo há tantos anos atrás.  Um indivíduo que não permitiu que seu talento fosse maior do que ele.

Citando mais uma vez o livro, não se trata de eliminar o talento, mas sim de dar atenção ao desenvolvimento da disciplina e da personalidade.  É a personalidade que determina como pensamos, sentimos e agimos e que reflete quem realmente somos.

Um abraço a todos!

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