QUAL O TAMANHO DO BURACO?

Os indicadores de atividade mostram reação, mas precisamos de muito esforço para recuperar as perdas de duas crises econômicas consecutivas e sobrepostas.

Entre todos os seus malefícios, o Covid trouxe a grave crise econômica que vivenciamos hoje.  Apesar de sinais de recuperação aqui e ali, as sequelas estão presentes, como a taxa de desemprego que não cai.  Sempre convém lembrar – e visualizar -, que a crise econômica provocada pelo Covid não foi um evento isolado a impactar a economia.  Na verdade, ela sobrepôs-se a outra, a que teve início em 2015, aprofundou-se em 2016 e perdurou até a metade de 2017.  E daquela crise ainda estávamos nos recuperando quando o Covid chegou.

Para entendermos melhor como era o nosso estado de saúde “normal”, por assim dizer, precisamos recuar um pouco no tempo.  Acreditamos que 2013 é um ano bom para tomarmos como referência, pois dessa forma ficamos com dois anos de relativa normalidade para vermos como fomos atingidos em 2015.  E como estava sendo dura a recuperação em 2018 e 2019.  Antes do Covid, muitos apostavam que voltaríamos à tal “normalidade” em 2020, 2021 ou 2022, o que até parecia ser possível, mas daí veio a pandemia e o resto da história ainda está em construção.

Adversidades como estas requerem tranquilidade para a recuperação. Mais do que isso, a recuperação não necessita de obstáculos evitáveis, como as crises políticas com as quais temos convivido. A nação precisa de paz para trabalhar e não de um clima de tensão constante e dessa expectativa diária de que algo ruim está por acontecer.

Para vermos onde estamos, e a dimensão dos desafios pela frente, selecionamos três indicadores: o PIB, o consumo de energia elétrica pelas indústrias e a produção de veículos automotores.

O PIB

Levantamos o PIB entre 2014 e 2021, por trimestres. O quadro abaixo mostra as variações entre um período de quatro trimestres sobre o mesmo período no ano anterior.  Assim, por exemplo, na coluna “1º. trimestre de 2021”, o gráfico compara o período de 12 meses entre o 2º. trimestre de 2020 e o 1º. trimestre de 2021, contra o período de 12 meses entre o 2º. trimestre de 2019 e o 1º. trimestre de 2020.  A tabela com os índices utilizados para o gráfico também foi colocada. Ah, e usamos o que o IBGE chama de “Valores encadeados a preços de 1995 com ajuste sazonal”. (Acreditem, há tantos dados disponíveis que a menção da fonte pode ajudar em muito.)   

Fonte: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/contas-nacionais/9300-contas- nacionais-trimestrais.html?t=series-historicas.

Notem que a variação do PIB começou a ficar negativa no primeiro trimestre de 2015. Depois, a queda foi se acentuando nos trimestres seguintes, e atingiu seu ponto mais baixo no 2º. trimestre de 2016. A partir do 2º. trimestre de 2017 a economia foi se recuperando e as taxas se mantiveram positivas em 2018 e 2019, mas os valores do PIB não retornaram ao patamar de 2013 e 2014 e do próprio ano de 2015.  

A boa notícia é que atualmente a tendência aponta para uma recuperação. Embora não estejamos mostrando isso num gráfico, destacamos que nos últimos três trimestres encerrados em março, consideradas as variações sobre os trimestres imediatamente anteriores, a taxa tem sido positiva:  1,2% no 1º. trimestre de 2021 sobre o 4º. trimestre de 2020, 3,2% no quarto trimestre de 2020 sobre o terceiro trimestre, e 7,8% no terceiro trimestre sobre o segundo. Permanece como destaque o crescimento dos setores agropecuário e das indústrias extrativas.

CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA INDUSTRIAL

Este é um excelente indicador de atividade, pois as indústrias só consomem eletricidade se estiverem operando.  As estatísticas costumavam ser divulgadas pela ANEEL / EPE (Empresa de Pesquisa Energética) mais rapidamente, mas hoje temos que conviver com dados menos atuais. A última informação é de maio de 2021.

A queda no consumo de energia pelas indústrias a partir de 2013 é extraordinária e reflete o que os dados do PIB já mostraram, ou seja, a profundidade da retração econômica dos últimos anos. O consumo de energia começou a se recuperar em abril e maio de 2021, tendo em vista os mesmos meses de 2020, mas ainda não retornamos aos níveis de 2019, que já eram baixos.

Um outro dado que merece atenção é o da queda no número de consumidores industriais entre dezembro de 2013 (584.728) e dezembro de 2020 (464.797), uma redução de 119.931 unidades no período.

PRODUÇÃO DE VEÍCULOS AUTOMOTORES (carros de passeio, comerciais leves, caminhões e ônibus).

Os fabricantes de veículos constituem a principal força no sistema industrial brasileiro, incluindo todos os setores produtivos que alimentam a produção automotiva.  Desta forma, a produção de veículos sempre foi um importante indicador da atividade econômica.

Este setor vem sofrendo diretamente os impactos das duas crises econômicas mencionadas no início deste artigo. A tabela ao lado mostra o pico de produção atingido pela indústria em 2013 (3.713.813 unidades). Sobre esta base, no ponto mais baixo da primeira crise, em 2016, a produção caiu 41,4%.  Na crise do Covid, em 2020, a queda foi de 56,7%. Em abril de 2020, com as fábricas fechadas, produzimos menos do que inacreditáveis 2000 unidades!     

Em termos acumulados, em 2021 a indústria produziu 1.148.470 unidades, contra as 729.269 unidades no mesmo período de 2020 (gráfico acima).

É uma reação, sem dúvida, mas ainda estamos longe de igualar as 1.474.305 unidades fabricadas entre janeiro e junho de 2019.

Um destaque vai para a produção de caminhões em 2021, a qual, até junho, encontra-se 34,9% acima do volume produzido em igual período de 2020.

CONCLUSÃO

Em suma, a posição em que nos encontramos hoje não é saudável nem agradável.  Temos sido resilientes ao longo da nossa história econômica recente (quem estava trabalhando a partir da década dos oitentas que o diga), e nada mudou na essência dos nossos recursos naturais, industriais e humanos. Mas estamos mais desalentados neste momento, como indica a pesquisa recente do Datafolha, pela qual 41% dos brasileiros estão pessimistas em relação ao futuro da economia do Brasil nos próximos 12 meses (desemprego, inflação e poder de compra).  Duas crises consecutivas e superpostas podem resultar nisso, principalmente quando uma delas resultou em tanta perda de vidas.

Como dissemos de início, não precisamos de mais nenhuma crise neste momento, notadamente as provocadas artificialmente. Precisamos nos blindar com serenidade e energia para voltar a trabalhar e produzir.

Um abraço a todos.

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